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Educar é sobre ações ou sobre corações?
26th September 2025
Por outras palavras, “Porque é que queremos que a criança se porte bem?”. Queremos que se “porte bem” para não nos dar trabalho e incomodar? Queremos que se “porte bem” para não nos envergonhar? Queremos que se “porte bem” porque é melhor para si e para os outros? Esta deve ser uma pergunta central para qualquer pessoa que está a orientar uma criança em direção a um bom comportamento: um(a) educador(a), um pai, uma mãe, um(a) mentor(a), um(a) auxiliar, um(a) professor(a), um avô, uma avó, tios, monitores. A ideia por trás dela é que a regra que apenas muda a ação ou comportamento não alcança o coração da criança. Dizer “Não podes bater nos outros!” não lhe ensina o que precisa de saber sobre o valor do outro ser humano. É certo que quanto mais pequenas forem as crianças, mais importante é dar orientações curtas, sem explicações muito complexas, porque elas não conseguem acompanhar o raciocínio complexo por terem uma cognição imatura. No entanto, isso não significa que não podemos deixar uma pequenina semente no seu coraçãozinho. “Não batemos nos outros, porque todos são importantes. Quando estamos zangados podemos dar 10 saltos de canguru.” E notem como é tão necessário dizer à criança o que pode fazer. Porque se a criança não recebe orientação sobre o que pode fazer só lhe dizemos o que não pode fazer, não estamos verdadeiramente a orientar o coração. Ela precisa de saber o que é o errado mas também o que é o certo. Sem a segunda parte, fica perdida e a probabilidade é que encontre uma alternativa que não seja saudável e seja um erro a substituir um erro. Quando uma criança diz “Foi sem querer.”, tipicamente não é porque tropeçou no passeio e empurrou o amigo. Normalmente é porque não se controlou e fez o que não devia. Nós precisamos de lhe ensinar que em vez disso deve dizer “Foi sem pensar. Não me controlei. Desculpa.” Porque não foi uma coisa que fez sem intenção. Fazer algo sem querer não significa perceber que a atitude foi errada. Não é um sinónimo de “Estou arrependido. Desculpa.” Normalmente a criança diz isso porque percebe que houve uma consequência negativa da sua ação: ou porque o amigo ficou zangado, ou porque o adulto deu uma consequência, etc. A criança precisa de entender, à medida que vai sendo corrigida, que é responsável pelas suas ações e não pode usar a frase “Foi sem querer.” para se justificar. E já agora podemos acrescentar à lista a frase “Foi ele(a) que começou.” Ainda neste cenário dos conflitos, quando obrigamos ou convencemos uma criança a pedir desculpa e deixamo-la ir embora assim que a palavra lhe sai da boca, estamos a tratar o comportamento ou o coração? É bom a criança aprender a pedir desculpa? Sem dúvida. Mas é bom ela aprender que basta dizer uma palavra mágica para ficar livre da culpa ou responsabilidade? Não. Nós precisamos que a criança entenda que pedir desculpa tem a ver com admitir a culpa e fazer algo para mudar. Além disso, é central que ela compreenda que a desculpa trata o relacionamento e a dor no coração do outro mas não trata feridas, brinquedos partidos, coisas desaparecidas… E se, em vez de apenas pedir desculpa para poder ir embora, lhe ensinarmos que precisa de olhar nos olhos do amigo, dizer “Peço desculpa por … (o que fez de errado). Imagino que possas sentir-te … (como o outro se sentiu). Da próxima vez posso … em vez de … . Desculpas-me? O que posso fazer para ajudar a ficares melhor?”. Por fim, uma reflexão para nós, os crescidos. Até que ponto estes não são aspetos que nós adultos precisamos de aprender? Quantas vezes os pedidos de desculpa entre crescidos não são os do coração, com reconhecimento da culpa e das consequências e ações que vêm para reparar o que foi causado? Até que ponto não nos focamos demasiado em mudar o nosso comportamento visível e pouco em mudar as intenções? Incluindo no nosso relacionamento com os pequenos. Uma criança que tem comportamentos adequados por causa das recompensas que recebe ou porque não quer uma punição, é um adulto que não aprendeu o que é empatia e ser responsável pelas suas ações.